... cada pessoa se sentisse fortalecida o bastante para ser quem é, em sua essência, não se submetendo às expectativas alheias?
... pudéssemos expressar o que sentimos sem o receio de sermos julgados, criticados e adjetivados?
... os pais incentivassem seus filhos a lidarem construtivamente com os conflitos, conversando sobre os aprendizados respectivos e incentivando-os a buscarem alternativas de solução?
... os parceiros, num relacionamento afetivo, falassem sobre suas necessidades e escutassem um ao outro sobre o que importa, fortalecendo-se mutuamente pela via da empatia e do respeito?
... as empresas reconhecessem seus colaboradores por suas habilidades e potencialidades humanas, valorizando-os pelo tempo de vida nela investido?
... as nações guiassem suas decisões pelo propósito de melhorar a qualidade de vida de todos os povos, independentemente das fronteiras?
Aos olhos de uns, todos estes ideais são utópicos; aos de outros, podem ser viáveis, a depender de uma condição, sem sempre fácil, mas sempre acessível: a disposição para dialogar. Sim, o diálogo é o grande desafio que se impõe neste século, justamente quando as pessoas dispõem de tantos meios de comunicação facilitados pelos avanços tecnológicos. Este aparente paradoxo pode ser compreendido diante da insuficiência do abraço virtual, da sensação de solidão mesmo contando com milhares de amigos e seguidores nas redes sociais, enfim, da inaptidão do virtual para atender todas as demanda das relações humanas. Como seres relacionais que somos, precisamos do calor do abraço afetuoso e do olhar acolhedor de quem nos escuta. Somente assim nos sentiremos abastecidos pela energia que emana do senso de pertencimento, no âmago do qual o todo sistêmico é muito mais forte que a soma das individualidades. Logo, eu sou porque és e vice-versa.
Não à toa, a disposição para dialogar pressupõe um olhar genuinamente respeitoso para a outra pessoa, sem o qual as palavras não encontrarão as condições necessárias para circularem. Referido olhar é capaz de transmitir a mensagem que habita n´alma, a qual, não raras vezes, torna dispensáveis as palavras que explicam, sendo suficientes as que conectam. A diferença entre uma e outra pode ser mais facilmente percebida quando estamos no papel de quem fala, sendo este um bom exercício para desenvolvermos a habilidade esperada de quem escuta. Uma dica: perceba-se, sobretudo quando é você quem fala e depois quando escuta (inclusive mapeie o itinerário dos seus pensamentos). Este aprendizado, bastante transformador, te levará a valorizar as palavras pronunciadas e a honrar o tempo em que estão circulando. Momentos assim costumam ser lembrados no futuro como um tempo precioso, pois, quando vivenciados, conectaram duas ou mais pessoas em torno de um diálogo, pouco importando quem tinha razão ou não, mas sim o que era dito. Afinal, toda palavra dita traz consigo a importância de ter sido escolhida.
Ouso, por fim, trocar todas as perguntas acima formuladas por apenas uma: qual foi a última vez que você escutou alguém verdadeiramente?
Quitéria Tamanini Vieira Péres
Sensação
Vento
Umidade