O dia 30 de janeiro foi instituído pela ONU como o DIA DA NÃO VIOLÊNCIA, data escolhida em homenagem à Mahatma Gandhi por retratar, como marco histórico, o dia em que morreu, fato ocorrido no ano de 1948, na Índia. Em sua trajetória, Gandhi propagou a paz lutando pelos ideais que acreditava, porém sem praticar qualquer ato de violência (muito embora a sofresse). Desde então, 72 anos se passaram. Neste intervalo de tempo, muitos outros atos de violência tem assaltado nossa paz de espírito e impactado nosso equilíbrio, fazendo-nos adoecer emocionalmente como sociedade.
Afinal, temos assistido a progressão da violência, com especial ênfase para a escalada estatística dos crimes de ódio fundados em questões de gênero, de orientação sexual, de racismo e de religião. Um olhar mais amplo nos revelará que a violência permeia também nosso cotidiano, pois a identificamos no comportamento das pessoas que conosco dividem o espaço do trânsito, que compartilham os locais na comunidade, o ambiente de trabalho, o universo das redes sociais, alcançando, não raras vezes, até mesmo o lugar considerado mais sagrado: o lar familiar.
Refiro-me à violência de toda ordem, não apenas a física, mas também a patrimonial, moral, sexual e, principalmente, a psicológica. Esta última se destaca pelo fato de que as palavras, pronunciadas no ímpeto de uma discussão, muitas vezes sem qualquer filtro de consciência, tem o poder de ferir, magoar e até mesmo de silenciar. Este desequilíbrio causado pela violência é capaz de calar os sons dos desabafos que, por deixarem de circular, darão lugar a novos conflitos. Estes por sua vez encontram em tal contexto as condições ideais para prosseguirem escalando progressivamente, havendo casos em que, num determinado momento, os envolvidos já nem lembram mais os contornos da razão primeira que a tudo teria desencadeado.
Por isso, antes de olharmos para fora e criticarmos os atos de violência que testemunhamos em nosso cotidiano, é necessário que façamos uma viagem interior de modo a nos conectar à nossa essência. Nela há todos os elementos que precisamos para experimentar a sensação de paz conosco próprios. Sim, em nossa essência humana, há compreensão, solidariedade, perdão, generosidade, paciência e amor. Somente assim, apropriando-nos disso com nossa consciência, tanto mais plena quanto possível, poderemos perceber a violência com outro olhar. Não com o olhar que julga, com a boca que condena ou com a escuta criteriosamente seletiva, mas sim com o coração que compreende, perdoa e se regozija com o aprendizado extraído de cada experiência.
Valendo-me das sábias palavras ditas pela escritora francesa Anais Nin, segundo a qual "Não vemos as coisas como são: vemos as coisas como somos", ouso dizer que, se não mudarmos nossa forma de ser (no âmbito da qual está o respeito ao nosso sentimento e, na mesma proporção, ao do outro), nada de diferente se refletirá no futuro, este que, como bem sabemos, se descortina gradativamente a cada amanhecer. É tempo de fazer o caminho de volta; de regresso ao nosso interior, certos de que, apropriando-nos das nossas virtudes, saberemos identificar a direção a seguir.
Sensação
Vento
Umidade