Dra. Nirceia Regina Lopes Advogada, inscrita na OAB/SC 10.057, pós graduada em Direito Empresarial e Tributário, atuante em Blumenau e Região, sócia integrante da Firma Lopes, Hostins & Pereira Advocacia e Assessoria e Professora Universitária.
Fui instigada a escrever sobre a Mulher pelo Jornal.... e a princípio me pareceu muito fácil. Afinal, falar de nós, mulheres, é muito bom. Que tenhamos um espaço em um veículo de comunicação é mesmo excepcional!
Na década de 1970, o ano de 1975 foi designado pela Organização das Nações Unidas como o Ano Internacional da Mulher, e o dia 8 de março foi adotado como o Dia Internacional da Mulher. Tinham como objetivo lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, que ocorrem desde 1909 nos EUA e também na antiga União Soviética, e ao mesmo tempo incentivar uma reflexão sobre os desafios que ainda nos falta superar.
Assim, iniciei lembrando de cada mulher que nos 160 anos do nosso Clube por aqui transitou. Quantas mudanças na vida das mulheres desde então! O direito ao voto, a revolução feminina... Mas, ao imaginar cada mulher que conheço e ao pensar individualmente em cada uma delas, entendi que não é tarefa simples falar sobre a Mulher no singular. Somos polivalentes com inúmeras atividades, tantas qualidades, muitas vontades e sonhos. Somos mulheres, somos plurais.
O que escrever então sobre as mulheres, sem clichês e sem repetição?! Percorrendo através do pensamento cada grupo em que transito, lembrando de cada mulher que conheço, decidi falar de um grupo mais específico e que ainda enfrenta muitos desafios: a Mulher Empreendedora.
O empreendedorismo é desafiador para qualquer pessoa, isso é fato. Entretanto, mesmo dispensando vitimizações a que nada levam, é necessário reconhecer que temos dificuldades em acreditar em nós mesmas. São muitos os desestímulos e uma coragem extra nos é requerida para darmos seguimento aos nossos sonhos. Não são poucas que desistem no caminho e acabam abrindo mão do seu empreender.
Nenhum problema há, é claro, em escolher caminho diverso. Não se pretende substituir uma imposição por outra, mas aumentar nossas possibilidades de realização. Os caminhos da felicidade são tão plurais quanto nós mesmas! Além disso, ser mãe é maravilhoso, dedicar-se ao lar é admirável! O importante é que lembremos que essa deve ser uma escolha da mulher!
O surpreendente ao observar os grupos nos quais transito é que muitas vezes, ainda hoje, essa condição é imposta à mulher. Sem que lhe seja perguntado o que deseja fazer ou se é possível conciliar o seu empreender com outra atividade. Nenhuma oportunidade de pensar sobre o que ela deseja lhe é dada. Decidem por ela. Algumas se insurgem, como sempre aconteceu ao longo da História. Mas nosso pensamento hoje se volta para aquelas que por algum motivo, seja por insegurança ou cansaço, desistem!
É mais comum do que se imagina esse procedimento. São velados, quase imperceptíveis, e acredito que por vezes sejam mesmo involuntários. Mesmo quando em forma de indagação, a pergunta vem em tom de desestímulo: “Você acredita mesmo que conseguirá administrar tudo? Tem certeza?!”
Há ainda muita dificuldade em ver a mulher como profissional. Faz-se necessário dissociar gênero da capacidade técnica ou inteligência. A mulher ainda é vista somente com capacidade materna ou dos afazeres domésticos, sem ser olhada com a capacidade de agregar valor para além dessas opções.
Quando em uma tentativa de empreender a mulher fracassa, logo lhe é incutido que se deve ao fato de não poder agregar mais de uma atividade (mãe, afazeres domésticos etc.) à sua atividade profissional. De forma totalmente antagônica, o homem, quando fracassa em sua atividade profissional, imediatamente é estimulado a empreender novamente, muito em função de uma cultura que vê o homem como o único responsável financeiro pela entidade familiar.
Essa cultura deve ser repelida porque já não corresponde à realidade. As mulheres - seja por vontade própria ou por imposição do destino - são em grande parte as principais responsáveis, e muitas vezes únicas, pela vida financeira de sua entidade familiar.
Frente às mudanças ocorridas na estrutura familiar, a partir de 1988, a Constituição Federal em seu artigo 226, parágrafo 4º., reconhece a entidade familiar uniparental (constituída por quaisquer um dos pais e seus descendentes), alterando o conceito de família nuclear (pai, mãe e filhos). O IBGE, no ano de 2015, tem como indicador para o núcleo familiar formado por mulher sem cônjuge e com filhos o percentual de 16,3% das famílias brasileiras.
Mas de quem parte essa atitude? Quem é que insere isso no âmago da Mulher? Os atos de desencorajamento vêm de toda parte, e até mesmo daqueles que nos amam e que genuinamente se preocupam com o nosso bem-estar. E pasmem, mesmo nós mulheres desencorajamos umas às outras. É necessária reflexão para que modifiquemos esse quadro tão arraigado em nós mesmas.
Por vezes não nos apoiamos. Concorremos conosco mesmas. Não temos uma característica tão fundamental quanto espontânea no mundo masculino: não somos corporativistas. Não nos defendemos. Mas acredito que podemos aprender a fazê-lo!
Façamos uma avaliação: em nossas listas de opções, na hora em que contratamos profissionais, quantas mulheres estão presentes? Seja médica, engenheira, dentista, advogada, política. Quantas são mulheres? Certamente que não devemos fazer a escolha pelo simples fato de ser uma mulher. Competência sempre deve ser a primeira qualidade a ser observada. O que identifiquei em minha pesquisa empírica, ou seja, baseada na experiência, é que muitas vezes nós, Mulheres, sequer colocamos como possível, no momento de contratar um serviço, a escolha por uma profissional Mulher.
Empreender sendo mulher conta com muitos outros reveses, e é possível detectar isso no dia a dia da mulher empreendedora. Como professora que sou, a aceitação profissional é natural, mas como advogada que também sou, é visível a necessidade de se firmar e se impor.
Certamente empreender não é uma tarefa simples. Fundamental como regra número um é decidir se é isso mesmo o que se deseja, para então escolher no que se deseja empreender. Após a escolha, há de se ter muita disciplina e foco. Não podemos desistir frente ao primeiro desestímulo ou desafio! E os desafios são muitos, mas com determinação e apoio mútuo, podemos ir longe.
Há de se levar em conta que, muitas vezes, há uma boa ideia, mas sua forma de gestão não está bem estruturada, então é crucial a busca por auxílio e trocas de experiências. As redes e mídias sociais são um nicho de pesquisa e aprendizado no caso de dúvida sobre sua escolha profissional. Pesquise sobre o tema. Há sites como https://trilhaempreendedora.rme.net.br/, que são gratuitos e podem auxiliar.
Além disso, o SEBRAE ampara no momento da escolha. Outra ótima opção é uma conversa com uma contadora ou advogada de sua confiança, para que planejem como iniciar o projeto, os custos, e até mesmo para ouvir as experiências já vivenciadas por essas profissionais. Participar de entidades que apoiam a micro e pequena empreendedora, tal como AMPE, sendo o associativismo uma ótima opção para trocas de ideias e networking. Por fim, tão necessário e importante quanto a escolha no que irá empreender, é buscar constante qualificação.
Sobre os desestímulos velados que recebemos já em nossa formação e as ideias incutidas em nossas mentes de que não podemos ser profissionalmente o que realmente queremos, é tempo de nos darmos conta de que podemos, sim, alterar essa trajetória!
Lembro finalmente que este dia não deve ser transformado em uma data comercial e que, sim, foi instituído para lembrarmos as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres. E para refletirmos juntos, enquanto sociedade, o que podemos fazer para avançar ainda mais.
Dessa forma, finalizo com a frase que li, não identificado o/a autor/a:
“Nunca diminua a imensidão que há em você para caber no mundinho de alguém!”
Sensação
Vento
Umidade