“Eu só descobri que já tinha conquistado meu primeiro milhão há pouco tempo”, conta a empreendedora e Forbes Under 30 Isabela Matte, de 22 anos. Foi ao sair de casa, quando atingiu a maioridade, que começou a gerenciar o próprio dinheiro e percebeu que tinha atingido o marco de R$ 1 milhão com apenas 14 anos, no primeiro ano do seu negócio próprio, o e-commerce de roupas Isabela Matte Store.
“Como eu era muito nova, meus pais nunca deram todo o dinheiro na minha mão”, explica a jovem. “A empresa se tornou muito familiar: minha mãe era minha sócia, meu irmão ajudava a preparar os pedidos, meu pai fazia as entregas de carro comigo. Todo mundo acreditou em mim e ajudou no crescimento da marca”. Mais do que isso, a crença da família esteve presente desde os primeiros planos de Isabela, quando ainda tinha 12 anos e queria criar suas próprias roupas.
De uma ideia na pré-adolescência, a Isabela Matte Store conta atualmente com cerca de 340 peças em seu catálogo e mais de 50 funcionários. O crescimento em 2020 foi de 86%. Dividindo seu tempo de trabalho com cursos de marketing digital e presença nas redes sociais, a empreendedora, além de maturidade emocional, conquistou sua estabilidade financeira muito cedo. “Hoje, aos 22, estou grávida do meu segundo filho e me sinto tranquila, preparada para isso. Cada um tem o seu tempo”, destaca. Para ela, essa é a dica mais importante quando se trata de jovens empreendedores.
“Tudo é feito de fases. Empreender não é um mundo composto apenas de dias bons. Você precisa abdicar de algumas coisas para fazer dar certo e tudo tem seu tempo”. No caso de Isabela, já são dez anos de trabalho intenso para alcançar a posição em que está atualmente. “Se você quer um negócio próprio, aja de acordo. O sonho vale a pena, mas você tem que trabalhar”, ensina.
No caso dela, o trabalho vem desde a pré-adolescência, quando, depois da mudança de Brasília para São Paulo, surgiu o interesse pelo mundo da moda. “Eu saí de um lugar onde as meninas subiam em árvores para pegar frutas e cheguei em um polo fashion. Isso despertou algo novo em mim”, relembra a empreendedora, que começou a sentir dificuldade para encontrar as peças que queria no mercado. “Aos 12 anos, você não é nem adolescente nem criança. Era um corpo estranho e eu não encontrava roupas que me agradassem.”
Foi assim que começou a visitar uma costureira e descrever as peças que queria no seu guarda-roupa. “Não era nada elaborado. Eu comprava os tecidos, explicava o que estava imaginando e conseguia, finalmente, modelos que combinassem comigo.” Também foi nessa época que passou a estilizar o uniforme da escola e algumas camisetas velhas de seus pais. Embora Isabela destaque o fato de não saber desenhar e fazer croquis de moda elaborados, suas roupas começaram a chamar a atenção de pessoas próximas.
“Minhas amigas sempre perguntavam de onde as roupas eram, então a ideia de montar um negócio surgiu na minha mente. Eu contei para a minha mãe e disse que a gente devia tentar vender”, conta a empreendedora. Com apoio instantâneo, sua mãe procurou uma pequena confecção e pediu a produção de duas coleções –cada uma com três peças pensadas por Isabela. “Foi um teste. Eu chamei minhas amigas em casa para ver como elas reagiriam e acabei vendendo tudo.”
Com a intuição de que a marca seria um sucesso, Isabela e sua mãe foram atrás do que era preciso para criar uma empresa digital do zero. “Tivemos que aprender sobre processo de produção, costura e tecidos, então, todo o processo de esquematização levou uns dois anos. O site já estava pronto quando eu tinha 13, mas eu só queria lançar quando fizesse 14, para me sentir mais velha”, conta entre risadas. “Parece bobeira, mas era importante para mim na época. Faz parte da história”. No dia 4 de dezembro de 2012, dois dias após seu aniversário, a Isabela Matte Store foi lançada.
Maturidade empreendedora
A primeira explosão de vendas aconteceu ainda no primeiro ano de e-commerce. “Uma calça flare preta, que eu criei cortando e estilizando um modelo da minha mãe, estourou de vendas por todo o Brasil, o que impulsionou outras peças também”, conta Isabela. “Nós tivemos que ir atrás de um processo de produção maior para atender a demanda. Além disso, eu fiquei conhecida como a ‘menina da calça’”, brinca.
Em uma época em que as vendas online ainda não eram populares como atualmente, a empreendedora revela que seu marketing era das antigas: o famoso boca a boca. “Indicações entre amigas. Era assim que eu ganhava clientes.” Já no meio digital, diferente das estratégias de redes elaboradas de hoje em dia, a jovem fazia um trabalho manual de interação com as contas de potenciais clientes. “Seguíamos pessoas que tinham perfis de consumidoras e comentávamos e curtíamos as fotos chamando atenção para a marca.”
Com menos de R$ 100 mil de investimento inicial, a empreendedora começou a lucrar o bastante para pagar a própria escola enquanto os pais passavam por dificuldades financeiras em um momento de sua adolescência, o que fez com que a maturidade chegasse mais cedo. “Desde muito nova, eu percebi a responsabilidade que eu tinha com as pessoas que estavam ligadas a minha empresa”. Não apenas seus pais, como os tantos funcionários que empregava. “Eu não podia desistir na primeira dificuldade porque eu não era a única envolvida. Foi uma responsabilidade que me amadureceu”, destaca Isabela.
Além disso, a jovem revela ter se preocupado muito com a imagem que passava para suas seguidoras da época. “Eu fiquei conhecida nas redes sociais. Se eu fizesse algo errado, isso seria comentado, e eu não queria passar exemplos negativos.” Mesmo adquirindo essa noção de responsabilidade, ela conta que não conseguiria passar pelas dificuldades se estivesse sozinha. “Nenhuma criança sabe gerenciar uma empresa sozinha, precisa ter um adulto por trás ajudando. Para mim, esse adulto foi minha mãe. Ela segurava as pontas quando eu queria desistir por vergonha e insegurança. Dizia que um dia eu ia agradecer.”
Hoje, mais do que agradecida, Isabela enxerga a mãe como a maior empreendedora que já conheceu. “Ela nunca teve negócio nenhum, mas se você chega para ela com um problema, ela analisa, faz um plano e tenta resolver. Sempre me ensinou a ir atrás do que eu quero e ser independente”. A jovem ainda revela que seu pai não fica para trás quando se trata de veia empreendedora. “Ele pagava a própria faculdade vendendo calcinha, roupa e paçoca pelos corredores.” De certa forma, ela acredita que herdou o mesmo espírito de resiliência.
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