Na tarde do último dia 28, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, mediou a quarta live da série “Diálogos Democráticos”, que abordou a importância do voto consciente para o aprimoramento da democracia. Participaram do debate Marcelo Tas, jornalista, apresentador e professor; Marina Silva, historiadora, ambientalista e ex-senadora; e Caio Coppolla, bacharel em Direito e comentarista político.
A live foi transmitida ao vivo pelo canal da Justiça Eleitoral no YouTube e em todas as redes sociais oficiais do Tribunal. O público que acompanhou a transmissão pôde interagir por meio dos chats e postando mensagens no Twitter usando a hashtag #DiálogosDemocráticos.
Voto consciente, educação e informação
Luís Roberto Barroso abriu o debate propondo uma reflexão sobre a postura do brasileiro em um país democrático, já que frequentemente se esquece em quem votou. Segundo o ministro, é importante que o eleitor não vote com indiferença, nem se disponha a vender o seu voto.
Para Marina Silva, a primeira coisa a se notar quando se fala no voto consciente é o discernimento do eleitor sobre o que quer para si e para a sua cidade para, então, saber escolher o político que melhor o represente. Somente assim, segundo ela, o cidadão se torna efetivamente um agente político. A partir daí, deve-se conhecer os antecedentes dos candidatos, seus princípios e valores, e, por fim, procurar fontes fidedignas de informação para orientar a sua posição política.
O debate aberto e diverso é, para Marcelo Tas, elemento essencial para a conscientização do eleitor. Para ele, a velocidade com que as informações circulam hoje em dia oferece uma série de perigos que favorecem os extremismos que empobrecem o debate democrático. Outro elemento que ele destacou foi a importância do diálogo entre as “bolhas” ideológicas, que têm se perdido, segundo Tas, em suas unanimidades.
Caio Coppolla disse acreditar que o eleitor consciente é o eleitor bem informado, ciente do que acontece na sua comunidade e no seu país. Contudo, na opinião dele, a falta isenção dos meios de comunicação tem uma grande responsabilidade na disseminação de desinformação. Para ele, há uma crise de credibilidade na imprensa, em razão do que apontou como enviesamento ideológico da atividade de informar – que deveria ser, por princípio, isenta, imparcial e objetiva.
“A polarização, de certa forma, sempre houve. O que me aflige não é a polarização, porque ela é da natureza humana. É a incapacidade do diálogo, de aceitar o outro”, apontou Luís Roberto Barroso. Assim, segundo o presidente do TSE, “a vida passa a ser tribalizada”, ou seja: cada um só é capaz de falar para a sua respectiva plateia cativa, dentro de uma bolha de unanimidade. Nesse sentido, Barroso destacou a importância da existência de um espaço público para a troca de ideias. “O que eu já sei, eu já sei. O que me enriquece é o outro”, concluiu.
Ele concordou que o acesso à educação no Brasil é um elemento que compromete a formação de eleitores conscientes. Barroso também identificou a confusão entre fato e opinião, que tem marcado o discurso político, principalmente nas redes sociais, como um dos elementos que mais têm prejudicado o diálogo e a construção do consenso na sociedade.
Jovens na política
O hiato geracional que se verifica na classe política se deve, segundo Caio Coppolla, a uma resistência do segmento a uma renovação de seus quadros. Isso, segundo ele, faz com que lideranças orgânicas sejam mantidas à margem do processo político, ao passo que elites oligárquicas se mantêm, há décadas, na representação do povo. “O mais importante agora é motivar o jovem, sobretudo o jovem idealista, o jovem intelectualmente independente, a pagar esse preço de jogar o jogo [político]. Não existe alternativa fora da política”, afirmou.
Marina Silva afirmou crer que a interação entre jovens e pessoas mais experientes serve para ressignificar a vivência da política. A professora diz acreditar que há um certo “fastio” da juventude em relação à política e isso se deve a sucessivas decepções com discursos políticos que, no passado recente do país, mobilizaram a população.
Contudo, a ex-senadora disse ver o surgimento de um novo ativismo entre os jovens, que não é orientado pelos partidos e é centrado em questões concretas da sociedade, como meio-ambiente, racismo ou acesso à educação. Isso, segundo Marina Silva, serve para renovar o discurso político e a forma com a política é feita. A discussão das candidaturas avulsas, para ela, se torna necessária dentro deste contexto.
Para Marcelo Tas, o jovem está interessado na política, sim, mas não na política partidária. A polarização que existe no Brasil, segundo ele, cria mocinhos e bandidos, empobrece o diálogo democrático e acaba por afugentar os jovens do ambiente político.
“Os custos são altos, mas poucas coisas são mais gratificantes na vida do que poder servir ao seu país”, afirmou Luís Roberto Barroso, ao comentar as respostas dos debatedores. Segundo ele, a possibilidade de servir ao coletivo sem buscar vantagens pessoais deve ser um grande atrativo para as pessoas decidirem entrar para a política.
Voto obrigatório ou facultativo?
Luís Roberto Barroso quis saber dos convidados se achavam que o voto no Brasil deveria ser facultativo ou obrigatório. Ele se declarou adepto do voto obrigatório, pelo menos pelo período de amadurecimento da jovem democracia brasileira. Ele explicou a sua posição dizendo que o voto facultativo favorece extremismos, porque o extremista não deixa de votar. Por outro lado, segundo ele, o voto obrigatório traz às urnas, ainda que de forma mandatória, o eleitor médio.
Marcelo Tas declarou-se contra o voto obrigatório. De acordo com ele, a premissa de que há mais participação política quando há obrigatoriedade do voto não é verdadeira. O voto, para Tas, é fruto de um processo pedagógico, no qual o eleitor aprende o valor do seu direito ao voto e as consequências de exercê-lo ou não. “Sou absolutamente contra o voto obrigatório e acho que podemos aprender com isso. Também sou a favor do voto distrital”, concluiu.
Na opinião de Marina Silva, no contexto dos chamados “currais eleitorais”, que ainda existem em partes do Brasil, o voto facultativo serviria para impedir que algumas pessoas sejam impedidas de votar enquanto outras são direcionadas para votar de uma determinada maneira. “Devemos trabalhar para o voto ser facultativo, criando mecanismos para incentivar as pessoas a fazerem esse voto consciente, a sentirem a necessidade de votar”, disse.
Já para Caio Coppolla, a obrigatoriedade do voto cerceia o direito do eleitor de não se manifestar. Ele diz acreditar que o voto facultativo faz com que os políticos se esforcem tanto para expor suas propostas quanto para convencer o eleitor a ir votar. Além disso, segundo ele, o voto obrigatório favorece a manipulação dos eleitores menos educados e mais desinformados, geralmente das camadas mais vulneráveis da população, elegendo assim maus políticos.
Perguntas do público
Questionada sobre a realização de uma eleição em plena pandemia, Marina Silva disse acreditar que a Justiça Eleitoral tem tomado todas as providências cabíveis para a segurança dos eleitores e mesários. Ela também ressaltou que cabe a cada um contribuir para o combate à pandemia fazendo o distanciamento social.
Sobre a possibilidade da existência de um debate político livre de polarização, Caio Coppolla disse que a polarização é inerente ao debate e não é, necessariamente ruim – desde que se manifeste livre de paixões, no plano das ideias e não no plano pessoal.
Quanto à disseminação de notícias falsas ou distorcidas nas redes sociais, Marcelo Tas afirmou que ela ocorre geralmente em ambientes de segurança e confiança, como grupos de família. Ele chamou a atenção para a responsabilidade de cada usuário sobre o conteúdo que compartilha.
Considerações finais
Marina Silva encerrou sua participação na live desejando que o diálogo possa contribuir para a reconstrução do país e do mundo. “Que essa beleza da verdade e do compromisso, da ética, do amor ao próximo possa se fazer presente naquilo que há de mais legítimo, que é quando eu penso em mim e no outro na hora de escolher os destinos de uma comunidade”, disse.
“Temos que olhar o Brasil com tempo. Nós não devemos querer resolver agora, nesse mandato, nem no seguinte. Temos que olhar o Brasil com a generosidade de quem sabe que, para construir uma nação, é preciso ter tempo”, concluiu Marcelo Tas.
Caio Coppolla, por sua vez, lembrou que os desafios da democracia não são superados em uma eleição, mas numa geração. Sendo um processo que não admite rupturas revolucionárias, a democracia requer engajamento e paciência.
Por fim, ao encerrar o debate, o ministro Luís Roberto Barroso reafirmou a importância do debate democrático e plural para o enriquecimento da sociedade. “A vida tem muitos pontos de observação. E, portanto, nós temos que ser capazes de respeitar as pessoas que têm pontos de observação diferentes do nosso”, ponderou.
Barroso afirmou ainda que, para além das posições ideológicas e políticas – que fazem parte da vida e são legítimas –, os denominadores comuns devem ser cultivados. São eles, segundo o ministro, que nos agregam como uma nação e nos unem ao compromisso de fazer do Brasil um país melhor e maior.
Sensação
Vento
Umidade