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ARTIGO

Um passo além da perfeição

Por Elizete Schazmann

14/10/2020 08h46
Por: Redação
Fonte: Elizete Schazmann
Elizete Schazmann (Foto: Divulgação)
Elizete Schazmann (Foto: Divulgação)

Com o início de uma gestação nascem as expectativas: como será a gravidez, será menino ou menina, com quem irá se parecer, se vai nascer com saúde, que nome terá, como os pais vão prover o sustento.... Quando nascemos começamos a assimilar a cultura da nossa família, depois vamos ampliando essa cultura conforme aumenta o nosso círculo de relacionamentos.

Disso tudo surgem determinados condicionamentos, regras e exigências externas e internas que podem ferir quem realmente somos e gerar marcas profundas no nosso eu. O que mais nos frustra nessa tentativa de ser quem devemos ser são os nossos relacionamentos. Não só os relacionamentos amorosos, mas os que temos com amigos, familiares ou colegas de trabalho. Escondido por de trás das convenções culturais e sociais está o nosso verdadeiro eu, ansiando por atuar na própria história.

Os relacionamentos são os que mais sofrem porque se somos quem devemos ser e não quem realmente somos não convivemos nem nos comunicamos de verdade com os outros, quem convive e tenta se comunicar são as personalidades forjadas pela cultura, as projeções de quem eu devo ser, de quem o outro deve ser. A regra é fingir até que a mentira vire verdade. Até que o encantamento do conto nos convença que somos quem não somos.

Perfeição e humanidade não combinam

Acontece que há um momento que esses disfarces, tão convenientes, nos machucam por dentro. Quando isso nos acontece buscamos desesperados por um “reajuste” para continuarmos escondendo nossas verdadeiras identidades. Apegados à ilusão de que o que representamos nos protege, sentimos insegurança em mostrar a própria pele, em encarar as marcas que os disfarces escondem.

Viver dói, viver é uma experiência intensa, marcante e transformadora que exige coragem para ser quem somos, nos aceitar, aceitar a verdade dos outros e entender que todos somos habitados por luz e sombra. Como forma de negar as nossas fragilidades inventamos o escudo de vidro da perfeição empunhando a espada da ilusão de podermos dominar e controlar os fatos.  

A ideia da perfeição é um mito que nos restringe, ela é um quadrado onde não cabe o ser humano, porque somos vida e ela é dinâmica, cheia de mudanças, aprendizados, alegrias, amores, dores e instabilidades.  Os nossos desafios e problemas nos indicam a chegada de um novo momento de crescimento, de deixarmos o conforto do remanso, para prosseguirmos no caminho e alcançarmos novos níveis.

O nosso caminho, único e intransferível, não aceita disfarces nem conveniências, nos chama para a ação e quanto mais preparados estamos, mais desafiadoras serão as provas. Já a perfeição é um limite estreito onde a capacidade, a criatividade e a alma humana se comprimem.

Quando conseguirmos transpor a perfeição do disfarce e descobrirmos que há beleza no que realmente somos, passaremos a conviver conosco de maneira real, a ver a nossa imagem projetada no espelho da vida, a reconhecer nossa capacidade de escrevemos a nossa história com a própria caligrafia, com todas as “imperfeições” que nos tornam únicos e tornam a nossa existência significativa.  E, quem quiser dançar a dança da vida sentido todos o calor pele, que venha sem disfarces.

Elizete Schazmann – Jornalista e especialista em Comunicação Não-Violenta

Contato:  ejsconteudos@gmail.com

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